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Gilberto Gil completa 80 anos transformando palavras e sons em poesia.

Gilberto Gil completa 80 anos transformando palavras e sons em poesia.

Publicada em 26/06/2022 às 07:08h

por Tribuna da Bahia


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 (Foto: Foto: Divulgação)

Parabéns ao nosso mestre maior. Gilberto Passos Gil Moreira, o imortal baiano nascido em 26 de junho de 1942 faz, hoje, 80 anos de idade.

São mais de 50 décadas dedicadas a traduzir, através da música, um Brasil profundo, continental e tão desigual. Mas nem só de Brasil vive a música de Gil, ela também passeia pela poesia, tecnologia, natureza, ancestralidade, religiosidade, questões de gênero e de tempo.

Falar de um artista genial, antenado e criativo como Gil, que tem estado durante todo esse tempo em pauta criando e nos presenteando, a cada nova obra, com músicas e letras que preenchem nossos corações e almas, é tarefa árdua, mas prazerosa.

E para comemorar a data, várias homenagens têm sido feitas e uma das mais importantes foi a criação do museu virtual O Ritmo de Gil, na maior plataforma de arte digital do mundo, o Google Arts & Culture. 

São mais de 41 mil imagens e documentos, além de 900 vídeos e gravações que contam toda a trajetória do cantor e compositor soteropolitano. 

Disponível em inglês, português e espanhol, esta é a primeira vez que um artista brasileiro vivo tem sua carreira disponibilizada na plataforma global. Inclusive, no acervo, tem um disco com gravações inéditas de Gil, produzido em 1982, em Nova Iorque, e encontrado durante o processo de curadoria do museu. 

Tempo rei

Ainda no começo, lá nos anos 1960, com os icônicos festivais da canção, Gil já despontava sendo reconhecido e premiado com a música Domingo no Parque (terceiro lugar), sem dúvida, uma de suas pérolas. Isso foi em 1967 e, a partir de então, o autor de Palco passou a construir uma carreira sólida, daquelas que consegue radiografar com maestria o turbilhão de acontecimentos pelo qual o mundo passa e vive.

Ao lado de Caetano, Bethânia e Gal, os eternos Doces Bárbaros, Gil tem plantado a Bahia no mundo através de suas geniais histórias musicadas. A partir da Tropicália, movimento de vanguarda do final da década de 1960 – o marco é o disco Panis et Circensis, de 1968 -, em que foi um dos principais mentores, esse mestre da música vem ensinando a todos que a Bahia é quem nos dá régua e compasso.

Com a carreira já consolidada e sendo, a cada dia, reconhecido com um dos grandes nomes da Música Popular Brasileira (MPB), Gil, ao lado de Caetano, viu sua liberdade artística cerceada e foi obrigado a se exilar em Londres. O ano era 1969, um dos mais duros da ditadura que assolou e censurou o país por 21 anos. Eles ficaram por lá até 1972.

Nessa época, o compositor já era casado com Sandra Gadelha e chegou a ter um filho na Inglaterra, Pedro, morto em 1990. Teve outros relacionamentos, como o vivido com a cantora Nana Caymmi e, desde 1981, é casado com Flora, com quem tem três filhos – Bela, Bem e José. Gil também é pai de Preta e Maria, filhas de Sandra, e de Nara e Marília, filhas de Belina de Aguiar. Além de ter 12 netos e uma bisneta.

Aqui e agora

Com mais de 50 discos, entre gravações de estúdio e ao vivo, o autor de Parabolicamará vem estabelecendo várias fases no decorrer da carreira. Desde as mais politizadas, passando pelas odaras, familiares, macrobióticas, poéticas, pops, revolucionárias, ecumênicas, o pai de Preta Gil pode ser identificado com uma salutar metamorfose ambulante, parafraseando o grande Raul Seixas.

E entre seus incontáveis clássicos, há canções que já se tornaram icônicas na história da MPB, como Tempo Rei, Toda Menina Baiana, Andar com Fé, Aquele Abraço, Se eu Quiser Falar com Deus, Domingo no Parque, A Novidade, Refazenda, Realce, Palco, Vamos Fugir, A Paz, Esotérico, Expresso 2222. É até complicado nomear, porque o acervo é vasto e muito rico.

No período do governo Lula, mais precisamente de 2003 a 2008, foi ministro da Cultura e um dos momentos mais marcantes de sua passagem pelo cargo foi quando cantou Toda Menina Baiana na abertura da cerimônia da ONU a convite do secretário geral Kofi Annan, em 2003, em Nova Iorque.

A performance foi nomeada como Show da Paz. Mas seu enveredamento pela política partidária começou bem antes. Foi exatamente em 1989 quando se tornou vereador por Salvador, ficando no cargo até 1992.

Com inúmeros prêmios adquiridos durante todos esses anos de andança artística tão profícua, desde novembro do ano passado Gil é um dos imortais da Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira que pertenceu ao jornalista Murilo Melo Filho. Uma justa coroação para que tem uma obra lítero-musical de primeira grandeza.

Louvação

Para o jornalista Bob Fernandes, Gil lembra o pai, a infância no interior de São Paulo. “Menino, vi meu pai, soteropolitano com jeitão Caymmi, vibrando e torcendo por Gil e Domingo no Parque num festival. Minha mãe também, lembrando da sua Vitória da Conquista, onde morava “Doutor Gil”, o médico pai de Gilberto Gil. Por décadas depois, entrevistas muitas. Incontáveis shows, na Fonte Nova com Jimmy Cliff e país adentro. Morando nos EUA, ouvir ‘viva o índio do Xingu’ (Um sonho) era bálsamo cotidiano. Minha anjo num hospital, Flora e ele, generoso, amoroso, à porta do quarto para alegrá-la. Ouvindo, lendo, vendo... com Gil, vida afora”.

E assim como Bob, o aniversariante tem uma importância extraordinária na vida de todos, como diria o cantor e compositor baiano Alexandre Leão. “Gil frequenta meus ouvidos, meu coração, desde sempre. Ele é como um pai para a minha geração, um daqueles caras que mostram o caminho a seguir, como se comportar na música e na vida. Mesmo antes de conhecê-lo, eu já era íntimo e grato. Sou um dos tantos filhos, netos, bisnetos musicais desse artista que já deixou um legado eterno não só na música, mas na cultura brasileira e mundial”.

Já para o escritor Aleilton Fonseca, Gilberto Gil é um artista que capta o lirismo da palavra, com muita sensibilidade, e o revela em consonância com a sonoridade musical. “Sua música é pura poesia. Assim, ele vem traduzindo os sentimentos do povo brasileiro há mais de 50 anos, em canções inesquecíveis e letras que são poemas antológicos. Com leveza vocal, ritmo ágil e texto exato, Gil constrói uma poética de ritmos, temas e toques que nos leva à fruição, à reflexão e nos eleva ao êxtase estético. Daí o encanto, a magia e a permanência de sua arte poética e musical”.

Targino Gondim, um dos parceiros musicais de Gil, também é só louvação e agradecimento. “Gilberto Gil é o ser humano que mais transcende nesse mundo. Ele é um dos maiores pensadores do nosso tempo. Intelectual muito humano, observador e atento. Tenho esse prazer de ser amigo, parceiro, de dividir o palco com Gil. O Brasil, o mundo e a música brasileira devem muito a Gilberto Gil”.

A cantora mineira/baiana Jussara Silveira lembra de uma música de José Miguel Wisnik para reverenciar o nosso Buda baiano. “Para falar de Gil, vou citar a letra da canção Sou Baiano Também: ‘Foi Gilberto Gil que viu o sertão de Luiz Gonzaga virar praia e mar aberto de Caymmi, sambaião no violão de João Gilberto’. Pois Gil é tudo isso que constitui nossa própria existência”.

E Luciano Calazans, músico baiano que gravou com Gil o disco As Canções de Eu, Tu, Eles, premiado com o Grammy de Melhor Álbum de Música de Raízes em Língua Portuguesa, em 2001, afirma que o autor de Drão tem um valor inefável para a cultura do Brasil e do mundo, e que já é um ancestral mesmo em vida.

“Ele é um dos compositores mais profícuos dos séculos 20 e 21. Sua importância transcende até a música porque ele é um exímio contador de histórias e de produção de imagens sonoras. Gil sempre transitou em muitos gêneros, com ênfase na música negra vinda da África”.

Para a cantora Ana Mametto, Gil é representatividade, potência, é a voz da resistência. “É nosso Buda, nosso pai. Que sorte a nossa sermos contemporâneos do mestre Gil. Desejo que seus 80 anos sejam de puro amor com filhos, netos e bisnetos. Que mamãe Iansã rasgue raios de amor no seu Ori e sopre ventos de felicidade no seu coração”.

Os 80 anos de Gilberto Gil são um marco fundamental para o entendimento do nosso país no último século e de nossa compreensão enquanto povo brasileiro, de acordo com Robertinho Barreto, músico da BaianaSystem.

“Para muito além do seu grandioso legado artístico, Gil nos traz uma dimensão intelectual, existencial e espiritual que mergulha em nossa emaranhada formação, e aponta para um futuro no qual a cultura é nosso grande bem, ainda capaz de revolucionar o mundo”, conclui Barreto.

 




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