Os brasileiros sofreram um prejuízo estimado em R$ 71,4 bilhões, ao longo de 12 meses, em consequência de roubos de celulares e dos crimes digitais, praticados com máquinas de cartão adulteradas, golpes com Pix e boletos falsos e fraudes em cartões de crédito.
O valor foi calculado em uma pesquisa Datafolha encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e pela Folha para avaliar o impacto dos crimes na internet e contra o patrimônio no país.
A pesquisa questionou entrevistados sobre os crimes digitais dos quais foram vítimas e sobre os prejuízos financeiros causados por cada tipo de delito. O prejuízo foi estimado com base no valor médio das perdas e no tamanho total da população.
Ao todo, 2.508 pessoas com mais de 16 anos foram entrevistadas em todas as regiões do Brasil entre os dias 11 e 17 de junho. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Esses e outros resultados devem ser apresentados na próxima quarta-feira (14) durante o 18º Encontro Nacional do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em Recife.
O prejuízo de R$ 71,4 bilhões diz respeito às principais modalidades de crime identificadas pela pesquisa, num universo de 13 tipos de delito que envolvem o uso do celular e o ambiente virtual.
Os dados mostram, por exemplo, como os crimes patrimoniais cometidos por meio da internet e de falsas centrais telefônicas estão disseminados na sociedade. Um em cada quatro entrevistados afirma que, de julho de 2023 a junho deste ano, sofreu alguma tentativa de golpe financeiro em aplicativos de mensagem ou por ligação, e também que os crimes envolveram transferências via Pix e boletos falsos.
Esses golpes digitais atingem, proporcionalmente, uma parcela maior de brasileiros cuja renda familiar é de 5 a 10 salários mínimos, moram em cidades com mais de 500 mil habitantes, têm ensino superior e idades entre 25 e 34 anos.
Um em cada dez (10,8%) entrevistados afirma que caiu nesses golpes em um intervalo de 12 meses, tendo junho, quando as entrevistas foram feitas, como referência. Uma parcela semelhante da população (9,2%) responde que já teve o celular furtado ou roubado no mesmo período. Além disso, 13,7% dizem que pagaram por algum produto na internet ou em redes sociais que não foi entregue.
Para o diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, os resultados demonstram por que a criminalidade está entre as maiores preocupações dos brasileiros, mesmo com quedas nos índices de homicídios desde 2018. E demonstram também um despreparo de órgãos governamentais para investigar e prevenir esses crimes, ele afirma.
“Há uma mudança, uma migração de crimes patrimoniais que envolvem violência para aqueles que envolvem golpes no mundo virtual, cibernético, no qual o celular é um elemento central”, diz Lima. “Precisamos começar a olhar com muita atenção para a maneira como se está fazendo investigação no Brasil, a qualidade e o impacto que a baixa qualidade da investigação —ou da não investigação de um crime contra o patrimônio— gera na sociedade e na economia.”
A estimativa de prejuízo total com esses crimes patrimoniais chega a R$ 186 bilhões nos últimos 12 meses, estima o Datafolha. Esse valor representa tanto o lucro dos criminosos quanto outros gastos causados à vítima —o custo de um novo celular para substituir um aparelho roubado, por exemplo.
No cálculo do prejuízo total com esses crimes, estão incluídos casos de tentativa de golpes financeiro. Segundo o Fórum, essa categoria inclui casos em que o delito é praticado após o roubo do celular da vítima. O cálculo também abrange crimes que vão da invasão de perfis nas redes sociais à compra de produtos que não foram entregues ou tinham preço acima do praticado no mercado.
Lima ressalta que o prejuízo total estimado pelo instituto significa um valor maior do que o montante despendido por União, estados e municípios na área de segurança pública. No ano passado, as despesas somadas das três esferas de governo com segurança foi de R$ 138 bilhões, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Esses gastos incluem policiamento, Defesa Civil, inteligência e outros programas ligados a essa área.
A pesquisa Datafolha demonstra o alto potencial de lucro aos criminosos que aplicam golpes digitais. Vítimas de fraudes no cartão de crédito, por exemplo, relatam um prejuízo médio de R$ 1.702 com esse tipo de crime. É o valor mais alto entre as 13 situações aferidas. Roubo e furto de celulares causam prejuízo de R$ 1.549, em média, e os golpes com Pix e boletos falsos, R$ 1.470.
Estima-se, com base nos percentuais de vítimas aferidos na pesquisa, que mais de 40 milhões de pessoas sofreram alguma tentativa de golpe financeiro por aplicativos de mensagem ou ligações telefônicas, em fraudes que envolviam transferências bancárias, Pix ou boleto falso. Pelo mesmo cálculo, seriam mais de 17 milhões de vítimas desse tipo de crime.
Menos da metade das vítimas faz BO de crimes digitais:
Os resultados mostram, ainda, que todos os crimes pesquisados têm taxas altas de subnotificação. Entre as 13 situações aferidas no questionário, apenas os roubos e furtos de celular tiveram mais da metade (55%) dos casos registrados em boletins de ocorrências.
Em seguida, vêm crimes que provocam os piores danos financeiros. Além dos roubos de celular, golpes com maquininhas de cartão adulteradas, com Pix e boletos falsos e fraudes no cartão de crédito são os únicos em que mais de 30% dos casos são notificados. O boletim de ocorrência costuma ser uma exigência de instituições financeiras para que se dê início a pedidos de reembolso nesses casos.
Apenas 18% informaram à Polícia Civil quando sofreram golpes financeiros por meio de publicidade na internet ou em redes sociais, por exemplo. E só 12% registraram as tentativas de golpe por aplicativos de mensagem ou ligação telefônica.