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Em filme, ex-Odebrecht diz que sofreu pressão para delatar Lula

Em filme, ex-Odebrecht diz que sofreu pressão para delatar Lula.

Publicada em 13/06/2022 às 06:29h

por A Tarde


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 (Foto: Foto: Divulgação)

Um dos principais delatores da Operação Lava Jato, o ex-executivo da Odebrecht Alexandrino Alencar relatou ter sofrido pressão de procuradores da força-tarefa para envolver Lula (PT) em seu acordo de colaboração. Alexandrino é apontado pela Lava Jato como elo entre o PT e a empreiteira.

O relato aconteceu durante uma entrevista para o filme "Amigo Secreto", da cineasta Maria Augusta Ramos. Segundo a colunista Mônica Bergamo, da Folha de São Paulo, Alexandrino também disse que, ao ouvirem de delatores o nome do tucano Aécio Neves como beneficiário de caixa dois, os interrogadores soltaram um dos investigados que citava o nome dele.

"Isso é um sistema anticorrupção? Ou é uma questão direcionada?", questionou na entrevista.

Ainda segundo Mônica, é a primeira vez que um delator da operação faz esse tipo de afirmação de forma pública até o momento. Os relatos eram  restritos a conversas reservadas entre clientes, advogados e entre magistrados de cortes superiores.

Alexandrino também disse que o ex-presidente era "o principal alvo" dos investigadores, que o pressionaram a chegar "ao limite da verdade" para envolver Lula em sua delação.

"Era uma pressão em cima da gente... E estava nítido que a questão era com o Lula", disse na entrevista.

Durante o relato, o ex-executivo disse que os interrogadores insistiam em questões sobre "o irmão do Lula, o filho do Lula, não sei o que do Lula, as palestras do Lula [a empreiteira contratou o ex-presidente mais de uma vez para falar em eventos]".

De acordo com a colunista Mônica Bergamo, a narrativa de Alexandrino Alencar condiz com reportagens publicadas na época da Lava Jato. Elas diziam que o Ministério Público Federal (MPF) resistia em aceitar a delação de Alexandrino já que ele não citava Lula, nem outros políticos, em suas revelações.

Só depois de ceder, os investigadores concordaram em assinar com ele um acordo de colaboração premiada, informou o ex-executivo. Dentre tantos assuntos, Alexandrino detalhou os gastos da empreiteira com a obra no sítio de Lula em Atibaia entre 2010 e 2011.

Em 2019, Lula foi condenado a 12 anos e 11 meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro por causa das reformas feitas pela construtora na propriedade. O depoimento de Alexandrino foi considerado fundamental na época para que o petista fosse condenado.  

Dois anos depois, o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou o ex-juiz Sergio Moro suspeito no caso do tríplex de Lula e acabou extinguindo a punição do ex-presidente.

Também no filme, Alexandrino conta que outros delatores, sob pressão, mentiram para os investigadores para poder assinar a colaboração e ver suas penas de prisão diminuídas. "Se eu falasse mais, eu estaria inventando. Estaria contando uma mentira como aconteceu com alguns [delatores] que você sabe, notórios, que mentiram para tentar escapar", disse.

"Eu contei a verdade. Eu cheguei no limite da minha verdade."

O ex-executivo relatou também saber de casos de pessoas que foram dispensadas dos depoimentos quando citaram Aécio nas delações.

"Não vou dizer o nome do santo. Mas tem colega meu que foi preso em Curitiba, chegou lá, o pessoal [investigadores] começou a perguntar sobre caixa dois [recursos doados para políticos sem registro na contabilidade oficial]. Ele [colega de Alexandrino] falou: 'Isso aqui é para o Aécio Neves'. Na hora em que ele falou, eles [interrogadores] se levantaram e soltaram ele. Isso é Lava Jato? Isso é um sistema anticorrupção? Ou é uma questão direcionada?", contou Alexandrino em entrevista.

Ele revelou ainda que a sua colaboração detalhou "vários casos de caixa dois. Infinitos. Não aconteceu nada com ninguém. Aconteceu comigo. Com eles [políticos] não aconteceu nada".

Alexandrino disse estar convencido de que foi investigado porque o objetivo da Lava Jato era chegar em Lula. "A maneira que fizeram... Como surge o Alexandrino nisso aí? Eles começam a me fiscalizar, grampeiam o meu telefone, o telefone do Lula", afirma.

O ex-empreiteiro contou que quando foi preso, em 2015, todos os outros empresários e executivos detidos acreditavam que ele logo seria solto, porque estava sob o regime de prisão temporária, que dura no máximo 5 dias.

Ele afirma que os investigadores "chamaram o Paulo Roberto Roberto [Costa, engenheiro e ex-diretor da Petrobras], chamaram o [doleiro Alberto] Youssef, [e eles] fizeram uma delação na cadeia [ambos foram presos antes dos empresários]".

Conforme a colunista Monica, a prisão de Alexandrino foi transformada de temporária em preventiva após o citarem nos depoimentos como operador de propinas da empreiteira. Ele ficou sem data para que fosse solto.

Alexandrino afirmou que a decisão de integrantes da Odebrecht de aderir a um acordo de colaboração foi "traumático", mas que foi incontornável, já que outras empreiteiras também passaram a delatar. 

Em 2016, Alexandrino Alencar foi condenado por Moro a 13 anos e seis meses de prisão, pelos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção ativa. Com o acordo e o pagamento de multas, o tempo foi reduzido para 6 anos e seis meses.

O ex-executivo da Odebrecht já cumpriu 1 ano em regime fechado, 2 anos e meio em semiaberto e agora cumpre o restante em regime aberto, podendo sair de casa normalmente nos dias da semana, sem tornozeleira. No entanto, ele está proibido de sair às ruas nos finais de semana.

Ainda conforme a colunista da Folha, os procuradores da força-tarefa nunca reconheceram a veracidade das mensagens divulgadas pela Lava Jato e sempre negaram que tiveram conduta parcial na operação. Eles sempre sustentaram que o único objetivo da operação era combater a corrupção no Brasil.

Sérgio Moro também afirmou que tratou com respeito, imparcialidade e sem qualquer animosidade, todos os acusados da Lava Jato. Ele também disse que suas sentenças foram fundamentadas e que o Brasil não pode retroceder no combate à corrupção.

 




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