Por Jussara Soares e Sérgio Roxo
Vinte anos depois de comandar a vitoriosa campanha de Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio do Planalto, o ex-ministro José Dirceu volta à cena para tentar levar mais uma vez o PT à Presidência. Em uma agenda paralela à pré-campanha petista, o ex-todo-poderoso chefe da Casa Civil mantém conversas com os principais atores do cenário político nacional e tem discutido até estratégias para atuação do pré-candidato a vice na chapa petista, o ex-tucano Geraldo Alckmin.
Dirceu defende que Alckmin se dedique a agendas com pequenos e médios produtores rurais e empresários do agronegócio do interior de São Paulo e do Centro-Oeste. O ex-ministro acompanhou de perto as negociações para que o ex-governador virasse vice. Segundo um dos principais articuladores da união, Dirceu foi um dos primeiros a saber da ideia de juntar Lula a um de seus ex-adversários.
Alguns aliados argumentam que é chegada a hora de Dirceu assumir publicamente o papel de articulador político da pré-candidatura de Lula, até como uma forma de se antecipar aos ataques que partirão dos bolsonaristas quando a campanha começar. O ex-ministro passou, no total, mais de quatro anos na cadeia desde 2013 em diferentes períodos. Ele está com direitos suspensos e tem duas condenações na Operação Lava-Jato.
Até o momento, o ex-ministro evita os eventos públicos da pré-campanha ou, quando vai, se mantém discreto. Na celebração do 1º de Maio das centrais sindicais em São Paulo, com a participação de Lula, optou por ficar no meio do público.
Nos estados
Nas últimas semanas, o ex-ministro vem se dedicando também a tentar resolver os problemas dos palanques de Lula nos estados. Tomou para si, por exemplo, a responsabilidade de solucionar o impasse da disputa no Rio, onde Alessandro Molon (PSB) e André Ceciliano (PT) brigam pelo posto de candidato ao Senado da chapa que deve ter Marcelo Freixo (PSB) na corrida pelo governo. Ainda para tratar do cenário no estado, o ex-ministro esteve com o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD).
Em São Paulo, já teve contatos com Márcio França, pré-candidato do PSB que o PT tenta tirar da disputa pelo governo. Dirceu se orgulha de conhecer detalhadamente a situação do PT em cada um dos estados. No passado, as suas movimentações políticas já incomodaram Lula e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann.
Dirceu também mantém relação estreita com integrantes da coordenação da pré-campanha de Lula, como o senador Jaques Wagner (BA) e o ex-governador do Piauí Wellington Dias.
O ex-ministro já afirmou anteriormente que não tem delegação da direção partidária para fechar acordos políticos e sabe que muitas vezes ajuda Lula ao ficar distante. Ele tem evitado conversas diretas com o ex-presidente, como forma de preservá-lo. Os dois se falaram pela última vez em abril. Segundo interlocutores, Dirceu consegue saber o que o ex-chefe está pensando mesmo sem conversar com ele. O ex-ministro foi procurado, mas disse que não comentaria.