A Eletrobras foi a empresa com ações na bolsa de valores brasileira que mais ganhou valor de mercado no primeiro semestre deste ano, segundo levantamento da plataforma Economatica.
Em seis meses, o ganho foi de R$ 49,3 bilhões, ou 48,52%. Com isso, o valor de mercado passou de R$ 52,31 bilhões para R$ 101,62 bilhões.
Dentre as 343 empresas avaliadas, 277 tiveram perda de valor entre 1º de janeiro e 30 de junho e 66 registraram alta, caso da ex-estatal. No total, as empresas com ações na bolsa tiveram saldo negativo de R$ 439,18 bilhões no semestre.
A valorização da Eletrobras ocorreu apesar de um ambiente negativo para o mercado de ações, resultante de uma combinação de fatores externos e domésticos.
A partir do segundo trimestre, os investidores intensificaram uma aversão a riscos por temerem um quadro de recessão global com uma série de alta de juros pelo mundo, em especial nos Estados Unidos, e efeitos de situações como a guerra na Ucrânia e novos lockdowns na China.
Internamente, a taxa Selic elevada estimula uma migração para a renda fixa, e o agravamento do risco fiscal com a PEC dos Benefícios afastou investidores estrangeiros, piorando o quadro.
No caso da Eletrobras, a alta coincidiu com o processo de capitalização da companhia, concluído no dia 13 de junho, quando o governo federal deixou de ser o sócio majoritário a partir de ofertas primária e secundária de ações.
No começo do semestre, a ação ordinária da empresa (ELET3) era cotada a R$ 32,63, e o papel encerrou o semestre valendo R$ 4 A valorização ilustra que “com a desestatização, os investidores estão mais confiantes que a empresa vai ficar mais eficiente e entregar mais resultados”, segundo Michael Viriato, sócio fundador da Casa do investidor.
Para Flavio Conde, analista de ações da Levante Investimentos, a alta também indica que a Eletrobras passou a produzir fatos específicos que atraíram os investidores com a capitalização.
Por um lado, o mercado deixa de temer, e precificar, possíveis interferências do governo, que deixou de ser o acionista majoritário.
Além disso, Ricardo Teixeira, coordenador do MBA em Gestão Financeira da FGV, afirma que a privatização indica uma tendência de crescimento de competitividade e eficiência a partir de uma reformulação de sua estratégia de negócios e mudança de diretoria.
Teixeira avalia que o setor elétrico brasileiro tem uma perspectiva positiva no médio e longo prazo, já que o Brasil deve precisar cada vez mais de energia, com crescimento de demanda, o que favorece as empresas do setor, incluindo a Eletrobras.
O maior risco para a empresa, na visão de Conde, vem do exterior. Para ele, a desaceleração da economia dos Estados Unidos, com chance de recessão, pode frear a tendência de alta da Eletrobras, que também prejudicaria o mercado de ações como um todo.
Além da Eletrobras, completam a lista de cinco maiores valorizações no semestre o Banco do Brasil (alta de R$ 12,9 bilhões), o ItaúUnibanco (R$ 11,1 bilhões), o BBSeguridade (R$ 10,4 bilhões) e a Hypera (R$ 6,1 bilhões).