O presidente Jair Bolsonaro (PL) chamou nesta terça-feira (2) de “cara de pau” e “sem caráter” quem assinou uma carta em defesa da democracia organizada pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).
O manifesto apartidário conta com mais de 660 mil assinaturas. Ex-ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), empresários e representantes da sociedade civil em geral constam entre os apoiadores da iniciativa.
“Esse pessoal que assina esse manifesto, [é] cara de pau, sem caráter. Não vou falar os adjetivos aqui que eu sou uma pessoa bastante educada. Essa é uma grande realidade”, afirmou Bolsonaro durante entrevista à rádio Guaíba.
Segundo o presidente, quem diz ser um defensor da democracia é, geralmente, “um ditador”.
“E ninguém que porventura queira dar um golpe vai dizer que não é democrático, vai dizer que é democrata. São contradições. Tentam me jogar para um lado como se eu tivesse preparando um golpe. Que golpe estou preparando? Qual é o golpe? Pedir transparência eleitoral? Você é contra a transparência? Contra a verdade? Contra a garantia que o teu voto vai para aquela pessoa?”, questionou.
Bolsonaro também relacionou a adesão de artistas à iniciativa a mudanças na Lei Rouanet.
“Veja o padrão das outras pessoas, artistas que foram desmamados na lei Rouanet. Quando eu cheguei aqui, esses artistas importantes que viviam apoiando o governo, vocês sabem quem são, especial da nossa Bahia, podiam pegar até R$ 10 milhões por mês da Lei Rouanet. Então essas pessoas perderam isso aí”, afirmou.
Bolsonaro disse ainda que quem assinou a carta defende o regime político em Cuba, onde pessoas foram presas e condenadas por protestar contra o governo local.
Em resposta a Bolsonaro, o procurador Luiz Antonio Marrey, que é um dos organizadores da carta, afirmou que a iniciativa defende o “regime democrático no Brasil como existe hoje”.
“Só pode ser contra uma manifestação em defesa da democracia quem possa ter hostilidade a essa forma de organização político constitucional”, disse ao jornal O Estado de S. Paulo.
Ele ainda afirmou que os organizadores vão continuar coletando assinaturas. A carta será lida durante evento em 11 de agosto.
“Essas assinaturas existem por uma percepção da necessidade desta defesa. Portanto, quando qualquer pessoa defende a ditadura, a volta ao passado, a supressão de liberdades públicas, ou fica nervoso com esse tipo de manifestação, mostra que as pessoas estão justamente organizadas em defesa de um bem maior, que é o regime democrático no Brasil”, disse.