Quatro em cada dez brasileiros adultos (40,05%) estavam negativados em outubro, o equivalente a 64,87 milhões de pessoas. Segundo levantamento realizado pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), este é o novo recorde da série histórica da pesquisa, realizada há oito anos.
No último mês, o volume de consumidores com contas atrasadas cresceu 9,24% em relação ao mesmo período do ano anterior. "O brasileiro ainda sente no bolso os efeitos dos últimos aumentos das taxas de juros e dos preços dos alimentos. Apesar de a inflação ter diminuído, no dia a dia isso ainda não é sentido nos produtos de consumo básico, que seguem aumentando. Esse cenário impacta diretamente no orçamento familiar", observou o presidente da CNDL, José César da Costa.
O crescimento do indicador anual se concentrou no aumento de inclusões de devedores com tempo de inadimplência de 91 dias a um ano. O número de devedores com participação mais expressiva no Brasil em outubro está na faixa etária de 30 a 39 anos (23,92%): são 16,07 milhões de pessoas registradas em cadastro de devedores nesta faixa.
O produtor de eventos Davi Brandão, de 35 anos, acabou caindo na inadimplência com a perda de receitas com a pandemia, durante o período de isolamento social. "Compromissos como aluguel, condomínio, contas básicas foram acumulando e, verdadeiramente, resultando em uma bola de neve. Como renegociação, o primeiro passo foi entregar o apartamento, retornando para o suporte familiar, onde estou até hoje, para me restabelecer financeiramente", contou.
Brandão disse que sua renda neste fim de ano terá um destino diferente. "Certamente, não será destinada ao lazer, pois tenho algumas pendências ainda, como o pagamento de uma dívida protestada em cartório — fui acionado porque os recursos acabaram na época", concluiu.
O valor médio da dívida de cada consumidor negativado, em outubro, foi de R$ 3.694,06. Cada inadimplente devia, em média, para 1,98 empresas credoras. Houve uma evolução das dívidas com o setor de bancos, que aumentou 31,82%, seguido de água e luz, com 14,39%. A inadimplência também segue bem distribuída entre os sexos, sendo 50,85% mulheres e 49,15% homens.
A dona de casa Adriana Faria, 42 anos, ficou com as contas de casa comprometidas depois da separação de marido. "Eu me separei há pouco tempo, ainda não me divorciei, e meu ex-marido ainda paga minhas despesas. Só que ele tem passado por dificuldades financeiras e, com isso, eu também. Pago aluguel, tive que me mudar para um apartamento mais barato e estou inadimplente com duas contas de luz do local em que morava antes, além da fatura do cartão de crédito", disse.