Enquanto mantinha, ontem, os bombardeios contra o leste da Ucrânia, a Rússia anunciava o plano de capturar o sul da ex-república soviética e o Donbass — região controlada parcialmente pelos separatistas pró-Kremlin. Uma mudança de estratégia que pode arrastar por ainda mais tempo a guerra, que completará dois meses amanhã. "Desde o início da segunda fase da operação especial, um dos objetivos do Exército russo é estabelecer o controle total sobre o Donbass e o sul da Ucrânia", declarou o general Rustam Minnekayev, subcomandante das forças do distrito militar do centro da Rússia.
De acordo com ele, isso permitiria a abertura de um corredor terrestre até a Península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014. A tomada do sul da Ucrânia teria reflexo sobre a Transnístria, uma parte da Moldávia ocupada pelos separatistas russos. Minnekayev disse que a área tem registrado "casos de opressão da população de língua russa". Ao ser questionado pelos jornalistas sobre quais territórios do sul da Ucrânia estariam nos planos de domínio de Putin, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, recusou-se a fornecer detalhes.
O anúncio do general coincide com uma estimativa feita pelo primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, de que a guerra dure até o fim do próximo ano. "É uma possibilidade realista, sim, claro. (O presidente russo Vladimir) Putin tem um exército enorme. Ele cometeu um erro catastrófico, e a única opção que tem agora é continuar tentando (...) esmagar os ucranianos", declarou. Londres prevê enviar tanques para a Polônia, a fim de ajudar a Ucrânia.
Por sua vez, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, se reunirá com Putin, em Moscou, na terça-feira, antes de visitar Kiev, também na próxima semana. Guterres instou a Rússia e a Ucrânia a seguirem quatro dias de trégua humanitária, em respeito à Páscoa Cristã Ortodoxa, a partir de 21 de abril. O pedido foi ignorado. A ONU informou que o Exército russo pode ter cometido "crimes de guerra". "As Forças Armadas russas bombardearam de maneira indiscriminada áreas residenciais, mataram civis e destruíram hospitais, escolas e outras infraestruturas civis, em ações que poderiam constituir crimes de guerra", declarou Ravina Shamdasani, porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos.
Um dos comandantes do controverso Batalhão de Azov em Kiev, o major Vladyslav Sobolevskyi desqualificou o plano de Putin. "Não compreendo como eles (russos) poderiam tomar a cidade portuária de Odessa. Não vejo tanto poderio militar da Rússia nem mesmo para capturar Zaporizhzhya. Essa estratégia de Putin é muito mais política e midiática do que sobre a guerra real", afirmou ao Correio.
O militar garante não temer a morte. "Esta é a nossa terra. Meus filhos têm que viver aqui, e meus acenstrais me deram essa terra. Não tenho outro lugar. É por isso que não tenho medo nenhum da guerra", disse. Sobolevski acredita em uma vitória da Ucrânia. "No mito bíblico de Davi e Golias, sabemos que Davi derrotou um inimigo mais poderoso com suas habilidades. Nós venceremos a Rússia."
Fonte: Correio Braziliense