A Rússia bombardeou Kiev nesta quinta-feira, 28, durante a primeira visita à Ucrânia do secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, que lamentou o "fracasso" do Conselho de Segurança em evitar o conflito.
Em Washington, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pediu ao Congresso US$ 33 bilhões em ajuda adicional para a Ucrânia, dos quais mais de US$ 20 bilhões serão destinados à assistência militar.
"Não estamos atacando a Rússia. Estamos ajudando a Ucrânia a se defender contra a agressão russa", justificou Biden, argumentando que os Estados Unidos não podem "ficar parados" diante das "atrocidades e agressões" russas.
A Ucrânia disse que identificou 10 soldados russos como suspeitos do massacre de Bucha e registrou 8.600 crimes de guerra desde o início da invasão russa em 24 de fevereiro.
Rússia quis "humilhar a ONU"
Os bombardeios de Kiev, os primeiros desde meados de abril, deixaram pelo menos três feridos, segundo o prefeito da cidade, Vitali Klitschko.
Esses bombardeios "dizem muito sobre os esforços da liderança russa para humilhar a ONU e tudo o que esta organização representa", afirmou o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky.
O presidente indicou que "cinco mísseis" caíram sobre a cidade "imediatamente após o encontro" que teve com Guterres. "Isso requer uma reação poderosa, da mesma intensidade", acrescentou.
Guterres e sua comitiva ficaram "chocados" com a proximidade do bombardeio russo, embora todos estejam "seguros", disse um porta-voz da ONU.
À tarde, Guterres visitou Bucha, uma cidade perto de Kiev, onde dezenas de corpos foram encontrados após a retirada das tropas russas, e exortou as autoridades russas a "cooperarem com o TPI (Tribunal Penal Internacional)" para "estabelecer as responsabilidades".
O chefe da ONU chamou a guerra de "absurda no século XXI" e admitiu que o Conselho de Segurança "falhou" em acabar com a guerra.
Investigação de atrocidades
O Ministério Público ucraniano anunciou a abertura de uma investigação contra dez soldados russos por seu suposto envolvimento nos massacres de Bucha.
Em 2 de abril, jornalistas da AFP encontraram uma rua repleta de cadáveres na cidade. A ONU documentou o "assassinato, incluindo alguns por execução sumária", de 50 civis.
Moscou negou qualquer responsabilidade e citou uma "encenação" colocada em prática por Kiev.
A Procuradoria-Geral da Ucrânia também disse que catalogou "8.600 arquivos especificamente para crimes de guerra e mais de 4.000 relacionados a crimes de guerra".
Os fatos investigados incluem "assassinatos de civis, bombardeios de infraestrutura civil, tortura", além de "crimes sexuais" denunciados "no território ocupado da Ucrânia", detalhou a procuradora-geral, Iryna Venediktova.
"O uso de armas proibidas" também está sendo investigado, acrescentou.
Guterres indicou que a ONU está fazendo "todo o possível" para evacuar civis do "apocalipse" de Mariupol, a cidade no sul da Ucrânia devastada pela ofensiva militar russa.
"O povo de Mariupol vive em estado de necessidade desesperada. Eles precisam de uma rota de fuga do apocalipse", pediu Guterres.
Intensificação da ofensiva no leste
Após a retirada do norte e dos arredores de Kiev, a ofensiva russa concentrou-se no sul e no leste do país.
"O inimigo intensifica a ofensiva. Os ocupantes executam ataques praticamente em todas as direções, com uma atividade particularmente intensa nas regiões de Kharkiv e Donbass", afirmou o Estado-Maior ucraniano.
A Rússia acusou as forças ucranianas de atacar na quarta-feira à noite, com mísseis balísticos e foguetes, bairros residenciais do centro de Kherson (sul), a primeira grande cidade tomada pelas forças russas.
A administração russa desta cidade anunciou que pretende introduzir o rublo para substituir a moeda ucraniana, a grivna, a partir de 1º de maio.
Alvos militares na Rússia
O comandante da Força Aérea Ucraniana disse que os lançadores de mísseis fornecidos pelos países ocidentais tinham alcance insuficiente para derrubar "os aviões dos ocupantes, que lançam bombas sobre nossas cidades a uma altitude de 8 quilômetros ou mais".
O Reino Unido pediu na quarta-feira ao aliados da Ucrânia que demonstrem "coragem" e aumentem a ajuda militar, argumentando que a guerra na Ucrânia é a "nossa guerra" e a vitória de Kiev um "imperativo estratégico para todos nós".
O Kremlin, no entanto, respondeu que os envios de armas à Ucrânia "ameaçam a segurança" europeia. Putin advertiu na quarta-feira contra qualquer intervenção externa no conflito da Ucrânia, prometendo uma resposta "rápida e feroz".
Nesta quinta-feira, Biden criticou Moscou por fazer alegações "ociosas" sobre o possível uso de armas nucleares no conflito na Ucrânia, dizendo que tais alegações mostram o "desespero" da Rússia.
Europa unida e solidária
No plano econômico, o grupo russo Gazprom suspendeu na quarta-feira o abastecimento de gás para Bulgária e Polônia, alegando que os países não fizeram os pagamentos em rublos, como Putin exige desde março.
O primeiro-ministro búlgaro, Kiril Petkov, pediu nesta quinta-feira, durante uma visita a Kiev, que a Europa seja mais forte" e encontre "alternativas" ao gás russo.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, denunciou uma "chantagem com o gás" e afirmou que os dois países membros da UE e da OTAN, dependentes do gás russo, serão abastecidos pelos vizinhos europeus.
A guerra entre a Rússia e a Ucrânia, dois grandes produtores agrícolas e de matérias-primas, acentuou os riscos de desaceleração econômica e aumento da pressão inflacionária em todo o mundo.
O presidente Zelensky afirmou que a Rússia "quer provocar uma crise mundial de preços" e o "caos" no mercado alimentício.