O papa Francisco assegurou que está disposto a viajar para Moscou e se reunir com o presidente russo, Vladimir Putin, na tentativa de parar a guerra na Ucrânia, que comparou com a de Ruanda, na África.
"Tenho que ir a Moscou primeiro, tenho que me encontrar com Putin primeiro", disse o papa argentino ao jornal italiano Il Corriere della Sera em entrevista publicada nesta terça-feira, 3.
"Como é possível que não se detenha tanta brutalidade? Há vinte e cinco anos, com Ruanda, vivemos a mesma experiência", afirmou o papa, se referindo ao genocídio de Ruanda, em 1994, onde ocorreu a tentativa de extermínio da população tutsi por parte do governo hegemônico Hutu, em que 800 mil pessoas morreram, segundo números da ONU.
O sumo pontífice pede incessantemente desde 24 de fevereiro que a guerra no velho continente pare "com o pesar de quem vê nada acontecer", disse o diretor do jornal italiano, Luciano Fontana.
Francisco recordou que no "primeiro dia da guerra" falou por telefone com o presidente ucraniano Volodimir Zelensky e repetiu várias vezes durante a entrevista que estava visando ir para Moscou.
"Em dezembro falei com ele (Putin) em meu aniversário, mas desta vez não o chamei. Quis fazer um gesto claro que todo o mundo pudesse ver e por isso me dirigi ao embaixador russo. E pedi que me explicasse, lhes disse que parem por favor. Depois pedi ao cardeal (Pietro) Parolin, após vinte dias de guerra, que fizesse chegar uma mensagem a Putin de que estava disposto a ir em Moscou", afirmou.
"Entretanto, não temos recebido resposta e seguimos insistindo, mesmo que Putin não possa ou nem queira realizar esse encontro no momento", comentou.
O papa também refletiu sobre o fornecimento de armas por parte do ocidente para a resistência ucraniana, uma questão que divide opiniões no mundo católico.
"Não responderei à pergunta de se é correto abastecer os ucranianos, mas o que está claro nessa terra é que estão testando as armas. Os russos agora sabem que os tanques são pouco úteis e estão pensando em outras coisas. As guerras servem para isso: para testar as armas que fabricamos", afirmou.