Autoridades da Ucrânia e dos EUA identificaram nos últimos dias uma mobilização por parte da Rússia para intensificar os ataques em várias frentes da guerra. Com medo do aumento das ofensivas, a população começou ontem a fugir de Kiev. A embaixada americana na capital ucraniana aconselhou seus cidadãos a saírem do país o mais rápido possível
Agências de inteligência americanas acreditam que a Rússia aumentará seus ataques contra infraestruturas civis e prédios governamentais, especialmente hoje, dia em que a Ucrânia celebra sua independência da União Soviética, em 1991, uma data contestada pela minoria de nacionalistas russos.
MEDO:
Segundo Alex Rodnianski, conselheiro do presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, as pessoas estão preocupadas que ataques voltem a castigar Kiev. "Elas estão reagindo à notícia", disse. "Ninguém quer passar muito tempo no centro, perto dos prédios do governo. Existe o risco de a Rússia tentar atacar exatamente neste momento para compensar sua incapacidade de sucesso no campo de batalha."
Autoridades da capital proibiram reuniões e eventos pelo menos até amanhã. Um reflexo do medo que tomou conta de Kiev esteve presente ontem no Estádio Olímpico, onde Shakhtar Donetsk e Metalist jogaram de portões fechados e empataram por 0 a 0 na abertura do campeonato ucraniano de futebol - que voltou a ser disputado em um ambiente tomado de emoção e apreensão. Após um pontapé inicial simbólico dado por um soldado, os jogadores foram a campo sabendo que, ao toque de uma sirene, poderiam ser retirados pelos militares.
TEMOR:
A segurança, no entanto, não está sendo reforçada apenas em Kiev. Policiais estão se espalhando pelas ruas de várias cidades do país. Grandes celebrações foram proibidas e as pessoas foram alertadas a prestarem atenção especial às sirenes de ataque aéreo. "Devemos estar cientes de que esta semana a Rússia pode tentar fazer algo particularmente desagradável e cruel", disse Zelenski.
O governo ucraniano teme ainda que a Rússia possa usar a data nacional para começar o julgamento de soldados ucranianos. Nos últimos dias, surgiram vídeos de gaiolas de ferro sendo construídas no palco do teatro filarmônico em Mariupol, cidade devastada e ocupada pelos russos.
O medo é que, enquanto a Ucrânia comemora sua independência, os russos possam condenar vários prisioneiros como terroristas, o que a ONU já alertou que seria considerado crime de guerra. "Nosso inimigo é insidioso", disse um comunicado da Polícia Nacional Ucraniana. "Pode desferir golpes dolorosos precisamente no feriado nacional mais importante - o Dia da Independência da Ucrânia."
AJUDA DOS EUA:
Os Estados Unidos anunciarão uma nova ajuda militar de 3 bilhões de dólares à Ucrânia, a maior desde que a Rússia invadiu aquele país, em fevereiro, indicou um funcionário americano nesta terça-feira (23).
O anúncio da Casa Branca é esperado para hoje, mesmo dia em que a Ucrânia comemora a sua independência e que marca os seis meses do começo da ofensiva russa na ex-república soviética.
O dinheiro chegará por meio da Iniciativa de Assistência em Segurança para a Ucrânia do Pentágono, e pode ser usado para cobrir custos imediatos da guerra, incluindo a compra de suprimentos e armas.
Trata-se de um fundo separado do financiamento da Autoridade Presidencial (PDA), sob o qual o presidente Joe Biden pôde ordenar transferências imediatas de armas e munição às forças ucranianas desde as reservas militares americanas atuais.
Na última sexta-feira, o Pentágono anunciou seu pacote de ajuda mais recente por meio do PDA, no valor de US$ 775 bilhões.