A vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, foi condenada pela Justiça nesta terça-feira (06/12) a seis anos de prisão. Ela foi considerada culpada de atuar como chefe de uma organização criminosa para desviar dinheiro do Estado durante o período em que governou o país (2007-2015). Kirchner, no entanto, não será presa. Esta é a primeira instância que abre uma longa série de apelações até uma decisão final, o que poderá ocorrer em meio as eleições presidências de 2023.
"Obviamente, haverá uma condenação", disse a ex-presidente em entrevista recente ao jornal Folha de S. Paulo. Desde o início do processo, em 2019, a ex-mandatária de 69 anos vinha afirmando que o veredito "já está escrito de antemão", ao afirmar se tratar de um julgamento político que pretende envolver todo o peronismo – O movimento político inspirado no ex-presidente populista Juan Domingo Perón, que governou o país entre 1946 a 1955 e, mais tarde, de 1973 a 1974.
Kirchner era acusada juntamente com outras 12 pessoas adjudicação supostamente ilegal de contratos de obras públicas na província de Santa Cruz em seus dois mandatos como presidente. A Promotoria pediu inicialmente uma pena de 12 anos de prisão, por considerada "chefe de associação criminosa" e por fraude, além de sugerir a inabilitação para exercer cargos públicos.
Antes do veredito, Kirchner disse que continuará na política , independentemente da sentença. "Opinar e dizer o que me parece que tem que ser feito para construir um país melhor para nossa gente, isso é algo que não vou renunciar jamais".
Em suas palavras finais perante o Tribunal, ela acusou os juízes de terem "inventado e distorcido" suas ações. "Isso é um pelotão de fuzilamento", criticou.
A defesa questionava a acusação de associação criminosa sobre a qual a promotoria construiu o caso contra a ex-presidente. Se o tribunal adotasse somente a acusação de fraude, a pena máxima se reduziria a seis anos. Em ambos os casos, pode ser aplicada a a inabilitação perpétua para o exercício de cargos públicos
Os advogados de Kirchner afirmam que não há provas para condená-la, mas que "o juízo será político,e é claro que haverá uma condenação."
Juiz sob investigação:
No dia anterior ao julgamento, o presidente da Argentina, Alberto Fernández, ordenou a abertura de uma investigação sobre uma suposta viagem secreta que teria sido feita por um grupo de promotores, empresários de mídia e juízes, entre os quais, Julián Ercolini, que conduziu o processo contra Cristina.
Fernández anunciou a medida em um pronunciamento à nação, acusando "grande parte do sistema de mídia privado" de "não noticiar o que aconteceu na viagem do grupo à região do lago Escondido", na região da Patagônia.
O pedido de investigação foi feito após a revelação de mensagens nas quais membros do grupo supostamente combinavam estratégias para esconder a viagem. "Fere a democracia ver a promiscuidade antirrepublicana com que alguns empresários, juízes, promotores e funcionários se movem", disse o mandatário. "Até agora eles se sentiram impunes. É hora de começarem a prestar contas."
Segundo reportagem do jornal Página 12, a viagem teria sido ocorrido no dia 13 de outubro ao Lago Escondido. O grupo, supostamente, voou em um avião particular e teria se hospedado na casa de campo do milionário britânico Joe Lewis.
A imprensa divulgou uma série de mensagens nas quais também foram discutidos meios de ocultar a origem do financiamento da viagem. Alguns teriam proposto a apresentação de faturas falsas e montagens de fotos.
"Parece evidente que a viagem existiu. E tudo parece indicar que, sabendo que o evento havia virado notícia, aqueles que teriam participado dele ficaram preocupados com o risco real de se envolverem em uma série de crimes, tal como a percepção de que [teriam recebido] presentes e faltado com o cumprimento das funções de servidores públicos", afirmou Fernández.