O aliado virou traidor — ao menos por algumas horas e nas entrelinhas. De sexta-feira (23) a sábado (24), Yevgeny Prigozhin, chefe do grupo Wagner, criado quase 10 anos atrás para atender justamente aos interesses de Vladimir Putin, tomou uma cidade russa com facilidade e avançou pelo país ameaçando chegar a Moscou.
A situação foi resolvida com panos quentes, colocados pelo próprio presidente da Rússia, que viu sua imagem ser abalada.
"O Putin, me parece agora, e eu acho que é a primeira vez que a gente pode falar isso em quase 24 anos de Putin como presidente, ele dá a sensação de não ser mais intocável como ele foi ao longo desse período inteiro", avalia Tanguy Baghdadi, professor de Política Internacional na Universidade Veiga de Almeida em entrevista ao podcast O Assunto desta terça-feira (27).
E o acordo entre as duas partes, feito por Alexander Lukashenko, presidente de Belarus, é uma incógnita que ainda vai levar tempo para ser entendida, na opinião de Tanguy.
"Não deu para engolir muita ideia de que 'ah, ok, eu virei as costas, voltei, vou pra Belarus e vai ficar tudo bem'. A gente aceitar isso seria aceitar que o Prigozhin, depois de toda a carreira que ele fez, de toda a força que ele ganhou, ele teria se aposentado, né? E realmente eu não consigo acreditar nisso."
Tanguy, entretanto, diz ver claramente intenções políticas nas ações de Prigozhin para as eleições russas do ano que vem. "Então, se o Putin quiser descansar, se ele quiser sair, o Prigozhin seria alguém em que ele poderia confiar, tanto é que ele é muito cuidadoso nessas críticas que ele faz. Eu sei que pode parecer que ele está colocando todo mundo no mesmo balaio, mas ele fala contra a classe oligárquica, que ele faz parte também, [...] e contra a classe militar, mas ele não ataca o Putin em si."