Um incidente ocorrido durante o Teste de Aptidão Física (TAF) da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), em setembro deste ano, envolvendo dois capitães e um oficial general, continua gerando grande repercussão nas redes sociais ligadas às Forças Armadas. As discussões se concentram em temas como abuso de autoridade, assédio moral e o impacto sobre a já desgastada imagem do Exército nas redes sociais, mobilizando a comunidade militar.
A situação quase terminou em um confronto físico
A Revista Sociedade Militar recebeu uma denúncia anônima que detalhou o ocorrido no dia 10 de setembro, durante a execução do TAF nas proximidades da Vila Militar, em Deodoro, Rio de Janeiro. Segundo o relato, um ciclista vestindo roupas civis, ao passar por uma ciclovia utilizada pelos militares para o teste, teria proferido ofensas, desencadeando uma troca de insultos. O ciclista, que mais tarde se identificou como um oficial general, teria elevado a tensão da situação, que por pouco não culminou em um confronto físico.
“Sai da frente bando de burro”, é a descrição da fala do general. “Em resposta, alguns militares também proferiram ofensas, e o ciclista continuou a discutir com eles ao longo do percurso. Algum tempo depois, o ciclista voltou e novamente provocou os militares, até que, em um ato inesperado, largou a bicicleta e agarrou o braço de um militar, o Capitão de Intendência G. (Turma AMAN 2014). O Capitão de Comunicações M. (Turma AMAN 2015) interveio, temendo que o confronto físico escalasse…”, diz trechos da denúncia recebida pela Revista Sociedade Militar
O Exército Brasileiro confirmou que os fatos estão sendo apurados em um procedimento administrativo
Buscando esclarecer os fatos, a editoria das RSM protocolou uma solicitação oficial ao Exército Brasileiro para confirmar a veracidade das informações. Em resposta ao pedido de informações, o Exército Brasileiro confirmou que o Teste de Aptidão Física ocorreu no dia 10 de setembro, na Avenida Duque de Caxias, na Vila Militar de Deodoro, e contou com a participação de capitães alunos da EsAO, dos cursos de Logística, Artilharia, Comunicações e Saúde.
Segundo a resposta oficial do Exército, após consulta ao Comando Militar do Leste (CML), foi informado que os capitães mencionados, Cpt. G. e Cpt. M., servem atualmente na EsAO e que no momento são realmente alvo de um processo administrativo para apurar os eventos daquele dia. O Exército também confirmou que o oficial general envolvido, Gen. E., comanda atualmente a Brigada de Infantaria Pára-quedista. Ainda segundo o comunicado, os envolvidos foram notificados e um processo disciplinar foi aberto para apurar as circunstâncias do ocorrido.
Ainda que a força tenha confirmado fas datas do teste ocorrido e existência e presença no local de militares que constam na denúncia, o comandante do Exército, general Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva, não se manifestou sobre o assunto e o Exército Brasileiro não confirmou que teria ocorrido ofensa entre militares, vias de fato ou qualquer dos fatos narrados na denúncia recebida pela RSM.
O episódio, que teria começado com uma troca de ofensas entre um ciclista que em tese seria civil e os militares, escalou para um conflito que poderia certamente ter sido evitado. Mais grave ainda é o fato de que o ciclista, após provocar os militares, segundo narra a denúncia, se revelou um oficial general, tornando a situação ainda mais complexa.
Trechos da denúncia
“Venho por meio desta realizar … denúncia anônima a respeito de um incidente ocorrido no dia 10 de setembro de 2024, durante a realização do Teste de Aptidão Física (TAF) da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), modalidade de corrida, às 06h15. Participavam do TAF militares dos cursos de Logística, Artilharia, Comunicações e Saúde. Durante a execução do TAF, onde mais de 100 militares corriam a velocidades elevadas, alguns ultrapassaram colegas que corriam mais devagar, utilizando parte da ciclovia do local. Nesse momento, um ciclista civil que passava pela ciclovia proferiu ofensas aos militares, dizendo: “Sai da frente bando de burro”. Em resposta, alguns militares também proferiram ofensas, e o ciclista continuou a discutir com eles ao longo do percurso. Algum tempo depois, o ciclista voltou e novamente provocou os militares, até que, em um ato inesperado, largou a bicicleta e agarrou o braço de um militar, o Capitão de Intendência G. (Turma AMAN 2014). O Capitão de Comunicações M. (Turma AMAN 2015) interveio, temendo que o confronto físico escalasse. Neste momento de tensão, o ciclista se identificou como o General de Brigada E., comandante da Brigada de Infantaria Pára-quedista. Apesar de ser um superior hierárquico, o general provocou e ofendeu os militares, contribuindo para agravar a situação. Após a troca de ofensas, os capitães continuaram o TAF, enquanto o general se dirigiu à organização do evento para formalizar uma reclamação. No dia 11 de setembro, os Capitães G. e M. receberam um Formulário de Apuração de Transgressão Disciplinar (FATD), que, no entanto, não registrou as ofensas proferidas pelo General de Brigada E. nem a situação de quase confronto físico iniciada pelo próprio oficial superior.”
Abuso de autoridade, assédio moral
Em discussões nas redes sociais críticas sobre o comportamento do oficial general levantam suposições sobre abuso de autoridade e assédio moral, questões que têm sido amplamente discutidos nos fóruns e redes sociais militares desde então. Comentários destacam falta de respeito dentro dos quartéis.
A repercussão gigantesca do caso, que rapidamente circulou nas redes sociais ligadas às Forças Armadas, gerou uma série de charges bem humoradas, figurinhas irônicas e trouxe à tona preocupações sobre como situações como essa podem manchar a imagem do Exército Brasileiro. Outra questão abordada em discussões é como a internet potencializa o poder de vigilância da sociedade, questões que anteriormente permaneceriam ocultas da população comum agora chegam rapidamente ao conhecimento da sociedade.
O fato de o bom nome da instituição estar sendo associado a um conflito interno entre seus próprios membros e – pior – envolvendo o comandante de uma tropa de elite – é um alerta para a importância de preservar a camaradagem, pudonor militar, disciplina e a hierarquia em todos os níveis, especialmente em relação à conduta de oficiais generais, aqueles que realmente tem prerrogativas para movimentar grandes contingentes.
A expectativa agora recai sobre o desfecho do processo administrativo em andamento. Se os oficiais forem punidos o Exército estará de certa forma endossando a conduta do oficial general e se forem absolvidos, a expectativa poderá recair sobre a possível punição do oficial general.
Robson Augusto – Revista Sociedade Militar